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 PÁGINAS e subPÁGINAS

Benedito e sua obra:

Nossa Senhora de Nazaré - 1970

O escultor aos 22 anos ( janeiro-1970), com a imagem de sua autoria em madeira, jacarandá, altura 70cm.

Localização - Belo Horizonte - MG

A escultura do Cônego Heitor,
a primeira obra de Benedito - 1965

Foto antiga da imagem portuguesa de Nossa Senhora de Nazaré,

a escultura do Cônego Heitor, vestido com uma batina de tecido 

e o escultor Benedito, com o barrete  da imagem do Cônego nas mãos, aos 15 anos, em 1965.

Localização Nazareno - MG

Cônego Heitor - a primeira imagem, batina esculpida na madeira e pintada. Em segunda tentativa - aos 15 anos - 1965

A primeira imagem não tinha semelhanças com o Padre Heitor, diz o farmacêutico Ozar Nestor de Carvalho, que fez a encomenda . O próprio Benedito disse que iria tentar outra vez e aí eu acreditei nele. Passei a ajudar com observações sobre o formato do rosto de um velho e passei algumas noções de anatomia". E a segunda imagem, se não saiu perfeita, pelo menos se parece com o Padre Heitor. Até pelo detalhe das orelhas grandes. Fiz uma foto e mostrei para muitas pessoas, que confirmaram a semelhança," diz Ozar, também responsável por insistir para que o menino, analfabeto até os 15 anos, entrasse para a escola. "

Imagem em madeira, cedro, pintada, 1,05m, tem sobre a cabeça um barrete e os braços são móveis, graças ao engenho de serem amarrados um ao outro por dentro da escultura, por meio de uma borracha, como as bonecas de antigamente - feita aos 15 anos - 1965

Localização - Nazareno - MG
Ozar Nestor de Carvalho - farmacêutico

Cônego Heitor -

a cabeça da primeira tentativa.

Exemplar histórico que faz parte do acervo do artista-escultor
 

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Homenagem da Prefeitura de Nazareno   - 2 de julho de 2021

Prefeitura Municipal de Nazareno-MG



DITO SANTEIRO

Quantas pessoas podem dizer que exercem o mesmo ofício há 65 anos e continuam amando o que fazem? Benedito Eduardo de Carvalho, o Dito Santeiro, certamente é uma dessas pessoas. O artista, reconhecido internacionalmente, começou aos 8 anos brincando de esculpir em madeira e pedra sabão. Aos 12, começou a receber as primeiras encomendas de imagens de santos. Ali nascia a arte inconfundível de Benedito.

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Em outubro de 1947, nos rincões de Minas Gerais, chegava ao mundo aquele que seria chamado de Dito Santeiro. O escultor nasceu em Conceição da Barra de Minas, mas, após os pais falecerem, mudou-se para Nazareno, onde vive há 54 anos. Foi aqui em Nazareno, que constituiu família e construiu uma carreira de indiscutível relevância artística.

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As primeiras peças esculpidas, ainda na infância, eram réplicas de casas, piões, carros de boi e carros antigos. Foi um desafio começar a esculpir imagens humanas, mas, de acordo com Dito, não houve grandes dificuldades. Ele conta que as visitas às igrejas, a observação atenta das imagens esculpidas e o desenho a lápis ajudavam no processo.

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Os anos foram tornando ainda mais habilidosas as mãos que já nasceram com o dom. Dito também chegou a realizar cursos e a formar outros escultores. É nos fundos da sua casa, que ele passa os dias, dando vida à madeira morta.

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Michelangelo disse: “eu vi o anjo no mármore e esculpi até que o libertei”. No caso de Dito Santeiro é uma legião de anjos, santos, de Jesus e Maria que foram libertados da madeira ao longo de mais de seis décadas. Imagens espalhadas pelos quatro cantos do Brasil e por diversos países, como Portugal, França e Itália. Dito também chegou a presentear o papa Bento XVI com uma imagem de Frei Galvão e recebeu uma encomenda do descendente da família imperial brasileira, o príncipe Dom Miguel.

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Em Nazareno, exemplares de sua arte podem ser admiradas na Igreja do Rosário (imagens de roca de Santa Efigênia e São Benedito) e no Santuário de Nossa Senhora de Nazaré (São José; Nossa Senhora Aparecida e no trono ao lado da Padroeira o anjo ao lado e o Espírito Santo acima). As famílias nazarenenses, Nestor de Carvalho e Carvalho Borges, também têm imagens do escultor. Na Avenida Padre Francisco há uma imagem esculpida em pedra, do Senhor do Bonfim, que leva a assinatura do mestre, doada ao município em 2004 e inventariada pelo Patrimônio Cultural.

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Ao ser perguntado sobre o orgulho que poderia sentir de sua carreira, Dito respondeu: “seria melhor agradecer a Deus o dom que Ele me deu e por ter conservado a minha vida para que eu pudesse trabalhar esses longos anos, com muito amor e muita gratidão. É o que eu sinto: a felicidade de Deus, como Ele é bom, ele faz maravilhas na vida da gente”.

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A Administração Municipal rende homenagem ao escultor Dito Santeiro que atende pelo celular (35) 3842-1081e no endereço Av. Padre Francisco de Andrade, 332 no centro da cidade.

#artistasmineiros

#ValorizeOsArtistas

Informe: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo

Homenagem da Prefeitura de Nazareno MG 2 de julho 2021.jpg

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O discreto herdeiro de Aleijadinho 


Transcrito de " NOTÍCIA E OPINIÃO - NO. A revista da Internet " de 31 de agosto de 2.000

 

foto - esculpindo o rosto da imagem de Cristo Ressuscitado - 1999

Fotógrafo - Fernando Lemos 

Texto de Alexandre Medeiros

A lâmina vai dando contornos aos olhos do Criador. São tão finas as lascas talhadas do tronco de cedro que elas oscilam lentamente no ar antes de se juntarem ao pó de madeira que forra o piso da oficina. Vestido com um surrado jaleco branco, Benedito Eduardo de Carvalho parece em transe. Por trás dos óculos de grau para perto, seus olhos mal piscam. A precisão dos cortes torna inevitável a comparação: feita de mola de fusca, a faca de 15 centímetros em sua mão direita é como o bisturi de um cirurgião. O artista só desvia a atenção do que faz para convocar o inseparável cachorro Mickey a beber a tigela de leite quente de todas as tardes. Anda, Mickey, não comeu nada hoje, apela, como se o enfezado fox paulistinha pudesse compreender. Diante da passividade do cão, ele balança a cabeça e mergulha de volta no transe. Aos poucos, o tronco de madeira com o corpo ainda tosco de um Cristo Ressuscitado vai ganhando formas barrocas. A luz da tarde perde força e se esvai na noite. Benedito encerra mais um dia de trabalho. Na penumbra da oficina, o rosto do Criador parece sorri Quando estiver pronta, a imagem de 1,80m do Cristo Ressuscitado terá consumido pelo menos quatro meses de trabalho do escultor.

"--- Se eu tiver de repetir uns exames de coração que o médico pediu, bota aí mais um mês de serviço”, diz Benedito, deixando claro que cada obra libertada da madeira por suas facas e seus formões exige dedicação total. Para sair da oficina – num pequeno galpão nos fundos da casa de sala e dois quartos –, a imagem de Cristo terá de ser perfeita aos olhos de seu criador. Jamais posso prever no decorrer de um trabalho onde será dado o toque final. Pode ser um detalhe nas vestes, nos pés, nas mãos, no rosto. Fico olhando muito tempo para uma imagem antes de considerá-la pronta. Só depois desse silêncio profundo eu me convenço de que não há mais nada a fazer.

A compulsão quase incontrolável pelo trabalho com a madeira e a busca minuciosa da perfeição fazem de Benedito um dos poucos escultores de arte sacra do país da genuína linha do barroco clássico mineiro, cujo representante mais fulgurante é o Aleijadinho. Sua obra é reconhecida como de relevante importância artística pelo Museu do Folclore Edison Carneiro, do Rio de Janeiro, uma das mais conceituadas instituições de pesquisa etnológica e conservação de acervo de arte popular do país (com 12 mil obras catalogadas). Lá está exposta uma belíssima imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem feita por Dito Santeiro.

Admirado no Brasil e no exterior, o artista tem em sua lista de clientes habituais nomes como o do vice-governador mineiro Newton Cardoso, o do ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, ou o da poeta Adélia Prado. Para essa clientela famosa e para a gente simples de Nazareno, cidade da região dos Campos das

Vertentes de Minas Gerais, Benedito é o ilustre artista plástico Dito Santeiro. Na entrada de Nazareno, as pessoas têm orgulho em indicar aos visitantes a casa número 332 da Avenida Padre Francisco de Andrade, onde moram Dito, sua mulher Carmen e a filha Rita.

É raro um dia sem visita. É meio difícil ter uma folguinha”, ele diz, com simplicidade. Os padres são os mais assíduos. O Cristo Ressuscitado, por exemplo, é uma encomenda feita por sacerdotes salesianos – a imagem vai ser colocada na porta principal da capela do Seminário de Belo Horizonte. É graças a uma encomenda de padres que uma imagem de Cristo Crucificado reina na igreja matriz de São Miguel, em Arcângelo (MG). Ou que a matriz do Divino Espírito Santo, em Barbacena (MG), ostenta quatro peças da lavra de Dito Santeiro: Nossa Senhora das Dores, Nosso Senhor Morto, Senhor dos Passos e o Divino Espírito Santo. Como atesta a agenda de encomendas do artista, há dele espalhadas pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Bahia. 

Dito Santeiro pagou do seu bolso telhas novas, contratou dois operários, conseguiu doações com outros vizinhos e destacou dona Carmen para uma empreitada das mais árduas: tentar parcelar numa loja da cidade a compra de madeira, tijolos e cimento para a reforma. Graças a Deus temos um bom nome na praça e consegui dividir o pagamento em cinco meses”, bate no peito a gerente-geral.

 

Esculpindo a imagem de Cristo Bom Pastor - busto - 2006

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Benedito é quase tão famoso benfeitor quanto escultor em Nazareno. É conhecida na cidade a história de sua peregrinação para comprar uma casa e dá-la de presente a uma senhora cega. Ele foi à delegacia e convenceu o delegado que deixar a ceguinha ao relento era um caso de polícia”, recorda o também escultor João Caetano Leite, de 44 anos, discípulo mais evoluído do mestre Dito Santeiro. O delegado entrou na campanha com uma viatura e a autoridade do cargo. Ao volante da patrulhinha, com Benedito no banco do carona, esquadrinhou Nazareno em busca de donativos. Ficar no tempo, expressão mineira empregada aos sem-teto, a ceguinha não ficou mais.

 

Mineiro de Conceição da Barra de Minas, cidade próxima a Nazareno, Benedito sentiu na pele o que é ficar no tempo. Perdeu o pais aos oito anos. A mãe, aos 15. Com três irmãos mais velhos, dividiu um casebre paupérrimo na zona rural de Conceição da Barra. Migrou para Nazareno com 15 anos para tentar sobreviver da venda de pequenas peças de madeira e pedra-sabão. As pessoas compravam mais por pena. Era um menino muito necessitado”, recorda o farmacêutico Ozar Nestor de Carvalho, talvez o grande responsável pelo nascimento do escultor Dito Santeiro. Foi ele quem encomendou ao menino imberbe o primeiro trabalho em madeira: a partir de uma foto antiga, fazer uma imagem do Padre Heitor, cônego em Nazareno por 63 anos e tido desde a sua morte, em 1955, como um santo para os habitantes do lugar.

 

Primeira escultura foi um fracasso

 

Foi um início nada promissor. A primeira imagem do Padre Heitor ficou tão ruim que o dono da Farmácia Espírito Santo devolveu-a ao escultor iniciante. Fiz questão de pagar os dias de trabalho e o material, mas a imagem não tinha semelhanças com o Padre Heitor. O próprio Benedito disse que iria tenta outra vez e aí eu acreditei nele. Passei a ajudar com observações sobre o formato do rosto de um velho. E a segunda imagem, se não saiu perfeita, pelo menos se parece com o Padre Heitor. Até pelo detalhe das orelhas grandes”, diz Ozar, também responsável por insistir para que o menino, analfabeto até os 15 anos, entrasse para a escola. Hoje, aos 53, Benedito se orgulha de ter completado o primário.

 

Tanto tempo passado desde a primeira imagem, o farmacêutico não tem dúvidas: as esculturas em madeira de Dito Santeiro são hoje perfeitas. Um especialista poderá achar defeitos, mas serão tão pequenos, tão insignificantes, que não mereceriam registro”, diz o boticário, com a precisão no olhar de quem avia receitas há mais de 40 anos.

 

Com ele concorda o pároco de Nazareno, padre José Casimiro, homem de poucas palavras: O Dito é um grande artista. A perfeição nos traços e o bailar das formas de suas imagens Dito Santeiro foi buscar em Aleijadinho, ícone da arte barroca brasileira. Não escondo a influência dele em minha obra. Ao contrário, faço questão de deixar isso claro. O Cristo de Aleijadinho na porta da Igreja de São Francisco, em São João del Rey, é fantástico. Quero que um dia os meus alunos sejam capazes de fazer imagens como as minhas. Aleijadinho conseguiu fazer isso com seus discípulos tão bem a ponto de especialistas ainda hoje discutirem se determinadas obras são mesmo dele ou de seus seguidores”, diz o escultor. Na oficina, Dito tem o auxílio de dois assistentes que já trilham os passos do mestre: Fernando Altieres e Francisnei Magalhães, ambos de 17 anos. Os dois foram alunos de Dito em um curso promovido pelo Senac no ano passado. Vão longe”, confia o mestre.

 

Católico fervoroso, Dito não passa um dia sem ir à missa. Acorda, toma o café e, como diz dona Carmen, veste a roupa de ver Deus”. Fica na matriz de Nazareno de seis às oito da manhã. Às nove, abre a oficina, já com o surrado jaleco branco. Todas as noites, sai em missão pastoral. Visita famílias de Nazareno para rezar o terço e pregar o Evangelho, em companhia de outros seguidores do movimento de Nossa Senhora da Rosa Mística. Nos fins de semana, embarca no seu velho fusquinha ano 81 para fazer o mesmo pelas roças da zona rural. No banco traseiro carrega a fé e uma ironia: uma imagem em tamanho natural da padroeira do movimento. Toda em gesso. Para o mestre da madeira, os santos de casa não fazem milagres.

 

Transcrito de " NOTÍCIA E OPINIÃO - NO. A revista da Internet " de 31 de agosto de 2.000

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